quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Para a melhoria do nosso trabalho político - Parte IV

E encerrando o tema, a sua quarta parte:

http://www.youtube.com/watch?v=yjH6jQB4GZE (Vídeo sobre Amilcar Cabral)



''A nossa Escola-Piloto, que é um dos elementos essenciais do nosso ensino, que está a abrir caminho para preparar quadros, para servirem amanhã o futuro da nossa luta, quadros que podem ser tanto militares como políticos, tanto electricistas como operários de qualquer ramo, como doutores ou engenheiros ou enfermeiros ou radistas ou outra especialidade qualquer (que ninguém pense que ir para a Escola-Piloto quer dizer que vai ser só doutor ou engenheiro, porque engana-se). A Escola-Piloto tem que ser cada dia mais exigente em relação aos alunos que recebe. Da nossa terra, devemos mandar para a Escola-Piloto os melhores alunos, que tirem as melhores notas, dentro duma certa trabalhos para fazer. Mas na Escola-Piloto cada dia temos que ser mais exigentes. No ano passado, por exemplo, só ficaram na Escola-Piloto aqueles que tiveram pelo menos suficiente. Este ano só ficarão aqueles que tiverem bom, porque a nossa Escola-Piloto é para a elite dos nossos alunos, quer dizer, para os melhores de todos os nossos alunos. Porquê? Porque a nossa terra tem muitos meninos jovens, rapazes e raparigas, que
querem vir para a Escola-Piloto para aprender. Não podemos permitir que estejam na Escola-Piloto rapazes ou raparigas que não aprendem nada, que passam anos reprovando, guardando lugar, tirando o lugar a outros que querem e têm capacidade dentro da nossa terra.
Não podemos permitir isso. Fizemos e devemos fazer apenas uma excepção, que é a seguinte: exigirmos às raparigas um bocado menos que aos rapazes para entrarem na Escola-Piloto, sobretudo na questão de idade e na questão de avanço nos estudos. Os rapazes só com a quarta classe. As raparigas, considerando sobretudo que, quando uma rapariga chega à quarta classe, já está formada e o pai em geral já anda à procura de maneira de a casar, temos que fazer o possível, se ela tem cabeça, por pegar nela e pô-la logo na Escola-Piloto. Portanto, admiti-las com a terceira classe e mesmo que tenham quinze ou dezasseis anos, devemos recebê-las, porque nós queremos fazer a promoção, o avanço das nossas mulheres e o melhor avanço, um dos principais avanços, é ensinar-lhes a ler e a escrever como deve ser. Essa é a razão por que fizemos diferença entre rapazes e raparigas na questão de os admitir na Escola-Piloto.


Devemos melhorar cada dia mais, nas nossas regiões libertadas, a assistência sanitária. Durante um certo tempo, no Norte e no Sul da nossa terra, houve camaradas que trabalharam muito para avançar com os serviços de saúde e avançaram de facto bastante, e criaram boas raízes para os nossos serviços de saúde. Fizeram-se hospitais na medida do possível, postos sanitários, foram criadas brigadas sanitárias. Além da assistência aos nossos combatentes, que é o principal objectivo da nossa assistência sanitária, porque estamos em guerra, começámos a dar assistência à nossa população. E então uma grande surpresa surgiu para muitos dos nossos camaradas, que diziam que o nosso povo não quer doutores, não quer «mézinho de branco», o nosso povo só quer «mézinho de terra», só quer «djambacós» ou mouros. O nosso povo mostrou que isso é mentira, o nosso povo aceitou os médicos, interessou-se pelos médicos e pelas enfermeiras.

Mostrou tanto interesse, amizade e estima pelos médicos, que o nosso povo começou a dar aos seus filhos os nomes dos médicos, os nomes daqueles médicos estrangeiros que vieram ajudar-nos. Essa foi
uma grande revelação para aqueles camaradas que pensavam que o nosso povo quer atraso em vez de progresso. Não, o nosso povo quer é avanço, como todo e qualquer povo do mundo. Isso não quer dizer que não haja gente na nossa terra que quer o seu «djambacós», que quando se lhe dá um medicamento por um lado, por outro lado vai fazer o seu tratamento da terra. Até alguns responsáveis do Partido, que têm um grande hospital em Boké para se tratarem, que têm bons enfermeiros e médicos, às vezes dizem-me: — «Cabral, eu quero ir fazer mézinho da terra».


Ainda estamos nessa situação, vamos fazer isso. Mas a verdade é que, cada dia mais, o nosso povo está a entender que os médicos, os enfermeiros, têm grande importância para a sua vida e têm salvo a vida a muitos filhos da nossa terra, sem serem combatentes. Mas temos que melhorar o nosso trabalho de saúde, temos que fazer os nossos enfermeiros e enfermeiras trabalhar mais, temos que dar exemplo, seja no hospital de Boké, seja nos hospitais dentro da terra, em qualquer lado. Os nossos enfermeiros e médicos têm que trabalhar mais que os médicos estrangeiros que nos ajudam. Temos que melhorar a distribuição de medicamentos, temos que poupar os medicamentos e temos que ter carinho pelos doentes, pelos nossos feridos. Isso deve ser vigiado, controlado pelos nossos Comités de Zona, pelos nossos Comités Inter-Regionais. Devemos exercer um controle permanente, sobre o trabalho dos serviços de saúde e dos serviços de instrução.


Para melhorarmos de facto as nossas áreas libertadas, temos que ser capazes, desde agora, de estabelecer um princípio e uma prática que pode levantar muito o nosso povo e que é o seguinte: vemos quem é capaz de fazer melhor, na amizade, na estima e na colaboração. Quer dizer, devemos estabelecer no nosso meio aquilo a que se chama emulação construtiva, quer dizer, concorrência, mas para o bem, não para a nossa barriga mas para servirmos o nosso Partido, o nosso povo. Tu e eu, nós trabalhamos num ramo qualquer, que é de nós os dois. Eu ajudo-te, tu ajudas-me, mas vamos procurar fazer cada um o mais que puder. E aquele que fizer mais, devemos levantá-lo bem alto, mas sem inveja, sem puxa-puxa, sem dar com o cotovelo no outro. Por exemplo, os nossos comissários políticos devem fazer o seguinte: —«Camaradas, entre a população desta área, desta terra quem produzir mais arroz este ano, tem um prémio ou uma medalha do Partido e, além disso, o Partido vai convidá-lo para ir para o estrangeiro, conhecer outras terras», isso por exemplo. Quem produzir mais batatas, a mesma coisa, mais mandioca, a
mesma coisa. Isso é que se chama emulação construtiva. Mas, no quadro do nosso trabalho do dia-a-dia, devemos pensar sempre o seguinte: que diabo, se o João ou o Bacar fazem muito, porque é que eu não hei de fazer muito também? Vou fazer força para fazer ainda mais que o Bacar, mais do que o João. Mas o Bacar vê-me e vê que eu avanço e então decide fazer ainda mais. Estou contente por ele ter avançado, porque o nosso trabalho melhorou, mas vou continuar a fazer mais ainda.


No plano da nossa luta armada, devemos estimular os nossos combatentes, empurrá-los para
fazerem cada dia melhor. A direcção do nosso Partido deve passar a apreciar os nossos comandantes, os comissários políticos, pela sua acção, e levantar bem alto o seu nome, como melhores valores do nosso trabalho porque eles, na emulação que estabelecemos, passam à frente.
Devemos, portanto, estabelecer a emulação construtiva, a concorrência positiva ao serviço do
nosso Partido e do nosso povo em todas as actividades. ''

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