Resumo (livre) da obra de Amilcar Cabral
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Vamos dizer alguma coisa sobre o que temos de fazer neste momento, para tornarmos mais rápida a vitória do nosso povo nas várias frentes de resistência.
Que devemos fazer?
''Devemos melhorar o nosso trabalho político. Devemos organizar cada vez melhor as nossas Forças Armadas, e fazê-las agir cada vez mais intensivamente; reforçar e consolidar cada dia mais as nossas regiões libertadas; orientar cada vez melhor a nossa gente em todos os planos das suas actividades e orientar bem os nossos estudantes, os nossos quadros em formação; agir cada vez com mais eficácia, com mais consciência e melhores resultados no plano exterior, nas nossas relações com a África e com o mundo em geral.
Devemos melhorar cada dia mais as nossas cabeças e o nosso comportamento, para servir melhor o nosso grande Partido ao serviço do nosso povo de Guiné e Cabo Verde.
Nunca é demais dizer que o trabalho político é um trabalho fundamental da nossa luta, tão fundamental que, como vos disse há pouco, cada tiro é um acto político também. Tão fundamental que, para o nosso Partido, os dirigentes na luta armada são dirigentes políticos. O camarada Nino neste momento está a fazer esforços para cumprir um plano que eu elaborei de ponta a ponta, depois de discutir com eles todos, para desenvolver um novo tipo de acção na nossa luta, através duma operação. Ele é que é comandante-chefe dessa operação e é membro do Bureau Político do nosso Partido. Qualquer dirigente da nossa luta armada, como o Tchutchu ou o Bobô, que estão aqui sentados, ou o Lúcio ou o Nandigna, ou outros que aqui estão, também são dirigentes do Partido, da sua Direcção Política, e até alguns deles já foram membros dos Comités do Partido em certa altura. Cabeças dos Comités do Partido, ou simples membros do Comité Regional. Portanto, nós sentimos que não fazemos distinção entre política e outras coisas, porque tratar da saúde da nossa gente, ensinar, fornecer à nossa população tecidos e outras coisas
para poderem melhorar a sua vida, é política. Dar tiros, trabalhar no plano internacional, é política. Mas dado que a nossa vida é complexa, com várias funções, há pessoas que têm um trabalho concreto, que é dedicarem-se ao trabalho político. Dirigidos pela Direcção Superior do Partido, por diversos escalões da Direcção do Partido, os nossos comissários políticos têm funções de trabalho político, seja ao nível Inter-Regional ou de Zona, ajudados pelas brigadas políticas. Mas os Comités do Partido os comités de tabanca, também devem fazer trabalho político. Este é um órgão fundamentalmente político também.
O trabalho político dos nossos comissários políticos, como o de todos aqueles que trabalham em política ajudados por todos os outros responsáveis do Partido, de qualquer nível, é um trabalho que é decisivo para a nossa luta. Podemos derrotar os tugas em Buba ou em Bula podemos entrar e tomar Bissau, mas se a nossa população não estiver politicamente bem formada, agarrada à luta como deve ser, perdemos a guerra, não a ganhamos. Por isso é fundamental que os nossos comissários políticos entendam isso claro, entendem a importância do seu trabalho, mas que todos os Comités Inter-Regionais ou de Zonas entendam a importância do seu trabalho, porque eles é que são os órgãos políticos do Partido, para trabalhar com a nossa gente. Seja membro de segurança, comissário político, responsável de saúde instrução, abastecimento, eles é que são a força política para agir cada dia, para melhorar o nosso trabalho.
É evidente que as vitórias das nossas Forças Armadas têm que forçar o trabalho político. Por exemplo, alguns camaradas nossos procuram conquistar a população fula das áreas entre Quirafo e Bangacia, mas quando essa gente ouve dizer que os tugas saíram de Madina Xaquili, mais fácil é fazê-la acreditarem nós. Portanto, vemos como é que as coisas se conjugam para ajudar sempre o trabalho político.
O que é preciso é que nós, membros do Comité Inter-Regional ou de Zona, sejamos capazes e dedicados ao nosso Partido. É preciso identificar-se totalmente com os interesses do nosso Partido. A primeira condição para melhorarmos o nosso trabalho político é melhorar os nossos trabalhadores políticos. É fundamental que os nossos comissários políticos, os nossos responsáveis da Milícia, da Segurança, da Saúde, da Instrução, tenham uma consciência bem elevada do seu trabalho. Devem ser aqueles que mais querem o nosso Partido, que mais amor têm pelo nosso povo e que estão mais decididos a aplicar na prática as palavras de ordem do Partido.
Têm que ser pessoas capazes de gritar bem alto o nome do Partido, da Direcção do Partido, devem ter confiança na Direcção do Partido. Têm que ser pessoas que, para corresponderem ao seu desejo consciente de morrer pelo nosso Partido, têm que trabalhar cada dia, de manhã à noite, para o nosso Partido, o que é bem mais fácil do que morrer, dar a sua vida. Têm que ser pessoas que devem estar vigilantes, sejam ou não dos Serviços de Segurança, vigilantes diante de toda a tentativa de estragar o nosso Partido, de trair o nosso Partido. Têm que ser pessoas capazes de ser amigas só dos amigos do nosso Partido, inimigos fortes de todos os inimigos do nosso Partido.
Têm que ser pessoas capazes de não aceitarem nenhum acto contra os interesses do nosso Partido,
e que, quando tiverem que falar diante do nosso povo, diante dos dirigentes, em qualquer meio, sobre problemas do nosso Partido, eles são aqueles que devem gritar mais, que levantam mais alto a bandeira do nosso Partido, o nome do nosso Partido. Eles é que têm que levar as massas atrás deles. Têm que ser capazes de estar atrás das massas, no meio das nossas massas, à frente das nossas massas, para as arrastarem elevando sempre mais do que toda a gente a bandeira do nosso Partido. Não podemos dizer, até hoje, que têm estado no nossos Comités só os melhores militantes do nosso Partido. Alguns não são nada os melhores, outros até têm medo de falar no Partido a sério. De ora em diante, vocês todos têm que trabalhar para pormos à frente dos nossos Comités do Partido gente que é de facto Partido e que, abrindo-lhes o coração, só encontramos a bandeira do Partido, abrindo-lhes a cabeça, só encontramos ideias do Partido, se lhes dermos a palavra, gritam alto, bem alto, o nome do Partido, para levantarem toda a gente para lutar pelo nosso Partido. E de noite ou de dia, a qualquer hora que for necessário trabalhar, eles estão pegados teso no trabalho do nosso Partido. Esta é a primeira condição para
melhorarmos o nosso trabalho político, melhorar o trabalho da nossa gente, melhorar a nossa gente que está ligada ao trabalho directo, exclusivo do Partido, do ponto de vista civil e político.
Temos que melhorar o trabalho no seio do nosso povo, temos que fazer reuniões com o nosso povo, o máximo que pudermos. Os comissários políticos de zona, têm que estar em contacto permanente com as tabancas, dentro da sua zona, em permanente contacto, reunidos com a sua gente, reunindo-se sempre com ela, com os Comités do Partido, fazendo reuniões de tabanca, discutindo os problemas das pessoas, procurando saber o que se passa, para ajudar a resolver os problemas. A Segurança deve estar com eles, fazendo também esse trabalho. A Saúde, a Instrução, fiscalizando, ajudando, resolvendo problemas. Tem que ser assim, temos que estar permanentemente mobilizando, organizando o nosso povo, ajudando os nossos comités de tabanca a fazerem as suas reuniões para discutirem os seus problemas, ajudando a nossa gente a mandar em si mesma, a resolver os seus próprios problemas. Só assim é que podemos de facto corresponder às exigências da nossa luta, hoje. E esse trabalho tem de ser feito na vigilância, em
relação a todos os actos do inimigo, quer infiltração do inimigo no nosso seio, —aí está a segurança para ver isso —a propaganda do inimigo na sua Rádio ou de qualquer outra maneira; temos de o neutralizar imediatamente. Temos de esclarecer as nossas massas, a nossa população sobre os problemas, os enganos que os tugas querem meter-lhe na cabeça. O trabalho político tem de ser um trabalho permanente no seio do nosso povo. Todos sabemos bem o que devemos fazer.
Devemos também melhorar cada dia o trabalho político no seio das Forças Armadas. Toda a nossa gente ligada ao trabalho político, incluindo os comandantes e os comissários políticos das nossas Forças Armadas, devem trabalhar para melhorar as condições políticas das nossas Forças Armadas. Não pode haver uma distância grande entre o comissário político de zona ou da Inter-Região e as Forças Armadas. Não. O comissário político da Inter-Região, o membro de Segurança da Inter-Região, a Milícia Popular da Inter-Região ou de Zona, tudo isso também é Força Armada, basta termos dado ordens para que todos tenham armas nas mãos. Essas são as Forças Armadas destacadas no trabalho político. Os das Forças Armadas são políticos destacados no trabalho da luta armada. Portanto, não deve haver distâncias grandes, eles devem estar sempre em harmonia, vivendo mãos nas mãos, trabalhando politicamente juntos.
E os comissários políticos de zona devem fazer de vez em quando reuniões com as Forças Armadas que estão nessa zona, ligados ao comissário político das Forças Armadas. Devem falar das relações com a
população, discutir problemas sobre a população, sobre as Forças Armadas, que agiram mal ou bem, para elogiar os que agiram bem, para combinarem a maneira de reforçarem mais a ajuda à população, para a população ajudar as Forças Armadas, para coordenar o seu trabalho, entre as Forças Armadas e a população, para fazerem um só corpo. Não é que o comissário político e o Comité sejam uma coisa e o comissário político do comando seja outra, e que cada um trabalhe do seu lado, virando as costas ao outro. Não pode ser assim. Devemos dizer claro que hoje, nas nossas Forças Armadas, alguns comissários políticos não são comissários políticos nada, nunca souberam fazer uma reunião política, nunca fazem reuniões políticas com os camaradas do Partido que estão nas Forças Armadas. Em geral, noutras terras, as Forças Armadas têm gente do Partido e gente que não é do Partido. Nós aceitamos que todos os camaradas das Forças Armadas sejam do Partido, temos que os trabalhar, explicar-lhes.
Há camaradas que morrem nas frentes de combate sem saberem o que é o Partido. Porquê? Às vezes só porque os nossos comissários políticos não sabem o que é o Partido. Temos que acabar com isso. Há os que sabem bem, mesmo sem instrução às vezes, mas sabem bem. Há os que fazem trabalho político a sério, mas grande parte não faz trabalho político no seio das Forças Armadas, e às vezes o próprio comandante não deixa o comissário político fazer nada, porque ele, comandante, é que manda em tudo.
Esquece-se de que o primeiro comissário político é ele mesmo. Ele é comissário político e é comandante, o outro é comissário político. Devem trabalhar juntos, fazer política juntos, junto das nossas Forças Armadas, porque, quanto mais politizadas forem as nossas Forças Armadas, maior é a certeza na segurança da nossa terra e na vitória da nossa luta. Há também palavras de ordem claras, relativas ao trabalho político nas nossas Forças Armadas, e não é preciso repetir tudo aqui, então lembrarei dos aspectos fundamentais na próxima postagem.